Fotos do foliões do Ecofolia 2009

Veja aqui as fotos do Ecofolia 2009, o Carnaval de Itatiaia.

2 de março de 2008

SERVIDORAS DIVIDEM APARTAMENTO PARA PODEREM TRABALHAR EM ITATIAIA

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VIDAS E ESPERANÇAS DIVIDIDAS
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Cerca de 30 por cento dos novos servidores públicos, chamados pelo concurso da Prefeitura de Itatiaia para a educação no ano passado, desistiram das vagas. A dificuldade de contratação foi tanta que o início do ano letivo foi adiado por mais uma semana, e ainda hoje tem profissional fazendo dobra para preencher vagas não ocupadas. Para os concursados, principalmente aqueles que moram fora do município, a desistência é explicada pelo baixo salário, ausência de vale-transporte para suas cidades e falta de opções de moradia em Itatiaia. Para contornar esses problemas, vários dos novos servidores decidiram morar em grupo, dividindo as despesas e o dia-a-dia. Fomos conhecer um desses grupos, composto por cinco mulheres, de 22 a 47 anos, e que estão morando juntas num apartamento de dois quartos.
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Quênia Mara Freitas Ferreira, 29 anos, Aline Vital Silva, 22, Lucilene Aparecida Barros, 29, e Maria Cristina Lourenço, 47, são de Volta Redonda, e Andréia Botelho Nogueira, 25, é de Barra Mansa. Lucilene e Andréia chegaram a Itatiaia primeiro, no dia 3 de setembro, e as outras mais recentemente, no dia 18 de fevereiro. Todas têm curso superior, normal ou de pedagogia, e Aline é graduada em matemática. Lucilene e Maria Cristina são pós-graduadas em psicomotricidade, e Quênia em psicopedagogia. Das cinco, apenas Maria Cristina é casada e tem um filho, as outras são solteiras. Em comum, além de um emprego público na prefeitura, um salário de cerca de R$ 570,00 mensais, um vale-alimentação de R$ 100,00 e a moradia num apartamento de dois quartos, sala, cozinha e varanda no centro da cidade, todas têm o gosto pela educação e pela sala de aula, como professoras e estudantes, pois querem continuar fazendo cursos de aperfeiçoamento. Por que estão na prefeitura? A resposta é unânime: é um trabalho com estabilidade num mercado onde nem sempre é possível estar empregada, e a certeza de estarem fazendo o que gostam.

Aline, Maria Cristina, Andréia, Lucilene e Quênia: apartamento dividido como solução para trabalhar na Prefeitura de Itatiaia
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Os diplomas de nível universitário e pós-graduação poderiam ter mais uma vantagem para elas, além do aprimoramento cultural e melhor capacitação: um salário um pouco maior. Isto está previsto pelo governo, mas a teoria nem sempre é igual à realidade. As primeiras concursadas deram entrada na documentação no início de setembro, no protocolo da prefeitura, mas até agora não obtiveram resposta, e já sabem que o dinheiro extra só poderá ser depositado em seus salários a partir do segundo semestre – “o professor já ganha tão pouco, e o nosso direito deveria estar sendo respeitado”, reclama Quênia, e sua colega Lucilene completa: “em Volta Redonda não se pede nem requerimento, pois o pagamento é automático”, conta com a confiança de já ter trabalhado no serviço público na Cidade do Aço, só desistindo do emprego porque não conseguiu ser promovida e não queria mais ser apenas a auxiliar de professora.
Outro problema é o vale-transporte. A prefeitura só paga a condução dentro de Itatiaia, e por isso não dá para voltar para casa todo dia morando fora. Mesmo para Barra Mansa o gasto seria muito grande no final do mês. E ainda existe uma outra dificuldade: a prefeitura exige comprovação de residência. Das cinco, apenas duas vão ter como apresentar esse tipo de comprovante, pois uma delas está passando a conta de energia elétrica para seu nome e a outra assina o contrato de aluguel. As outras três não terão comprovante, porque nem existe telefone fixo no apartamento – "já falamos para virem aqui ver nossa república, mas também não tivemos resposta", conta Andréia. Três delas conseguem chegar às escolas a pé, apesar de ser um pouco distante, mas Quênia e Aline trabalham em Penedo, e gastam com ônibus R$ 3,40 todo dia, ainda não reembolsados.
Para elas, ficar em Itatiaia é mais barato e menos cansativo, mas só se for em grupo, pois viver sozinho não daria, pelo custo do aluguel. As cinco gastam R$ 370,00 no apartamento, mais luz, condomínio e gás. O almoço está garantido nas próprias escolas, e à noite todas preferem fazer apenas um lanchinho – “para manter esse nosso corpinho”, brinca Lucilene. Cada uma compra o que gosta de comer, e ninguém mexe nas coisas da colega na geladeira, a não ser que esta ofereça. A cada semana, uma fica responsável pela limpeza do apartamento, e outra pela do banheiro, se revezando na semana seguinte. A mobília é simples, umas trouxeram seus móveis de casa, mas a maioria ainda dorme em colchonetes espalhados pelo chão. A diversão está numa pequena televisão fixada na parede da sala e nos longos papos que têm todos os dias – “conversamos muito, trocamos experiências da faculdade e de nossas escolas, estudamos e pesquisamos os livros uma da outra”, conta Aline. Andréia e Lucilene dizem que a experiência de morar longe da família também já valeu porque aprenderam a cozinhar “na marra, por necessidade”, e hoje já sabem pelo menos o básico. Também existem algumas regrinhas de convivência, como não namorar no apartamento.

Regras facilitam convivência, como dividir o trabalho, não mexer nas coisas das outras e não namorar no apartamento

Quem demonstra sentir mais saudades de casa é Maria Cristina, que está casada há 25 anos com um advogado e tem um filho, de 18 anos. As colegas contam que ela fala com o filho “várias vezes por dia quando não está trabalhando, pelo celular”. Ela diz que o marido lhe deu todo apoio para trabalhar em Itatiaia e conquistar seu espaço, pois percebeu que ela não queria continuar sendo apenas uma dona-de-casa, lavando, passando e cozinhando – “além disso, quero fazer mestrado em Lorena, e aqui de Itatiaia fica mais perto”, diz ela. Os pais, o filho e o marido já vieram visitar o apartamento das novas servidoras, e todos têm dado muito apoio, garantem.
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Quanto ao futuro, todas vêem a moradia em grupo como provisório, e para pouco tempo. Aline espera ser chamada no concurso público de Volta Redonda, para o qual já foi classificada, e vai tentar o de Barra Mansa, esperançosa de ficar mais perto de casa. As outras também pensam em outros concursos, e na chance de voltar para mais próximo de suas famílias. Quem desempata é Lucilene: “já arrumei um namorado aqui, gostei muito da cidade, e quem sabe eu não me case, monte uma casa com meu amor e fique aqui de vez?”, diz, se divertindo, e completa: “nada nessa vida acontece por acaso, e o futuro pode trazer muitas boas surpresas”.

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