O VIII Festival de Teatro de Resende terminou neste último final de semana, depois de ter atraído centenas de espectadores para as peças teatrais infantis e adultos, sempre muito aplaudidas. Na cerimônia de entrega do prêmio Puri (uma estatueta de um índio Puri, muito bonita, feita de madeira de demolição por artesãos mineiros), realizada no sábado (26 de julho), os organizadores do festival deste ano decidiram prestar uma homenagem a mim, Daniel Fortes e Rafael Binder, que fizemos o primeiro festival, realizado há 20 anos, em 1988, o Finacer, e que antecedeu e abriu caminho para os demais festivais realizados desde então. Rafael, que há dez anos não está mais entre nós, foi representado por sua mulher, Ana Camarinha, que se emocionou até as lágrimas, durante o discurso sensível de Daniel Fortes. Reproduzo abaixo trechos do texto lido pelos mestres-de-cerimônia, e que relembram um pouco a história dos festivais de teatro de Resende.
Foto de Lúcia Pires
Daniel Fortes, Ana Camarinha e eu, agradecendo a homenagem, sob os holofotes do Vitória na festa de encerramento.
" No dia 19 de julho, Resende estava em festa com a abertura do Oitavo Festival de Teatro. Mas o Teatro Brasileiro ficava mais triste. Aos 102 anos de idade morria a irreverente, debochada, incompreendida e muito amada Dercy Gonçalves, a dama marginal do Teatro Brasileiro.
Na cerimônia de premiação do VIII Festival de Teatro de Resende, foram oferecidos aos melhores o prêmio Puri, batizado assim em homenagem aos primeiros habitantes de nossas terras. Os Puris, que em tupi significa povo tímido e manso, habitavam entre as margens do Rio Paraíba do Sul e a Serra da Mantiqueira, eram atarracados, cabelos finos e pintavam-se de vermelho (urucum), azul (genipapo) e preto (carvão).
O ano: 1988. O cenário: o velho e querido Cine Vitória. Os protagonistas: Daniel Fortes, Rui Camejo e o saudoso Rafael Binder. Há 20 anos começava a nossa história.
O primeiro festival de teatro de Resende foi o Finacer – Festival Integração das Artes Cênicas em Resende. O evento em si já era audacioso para a cidade, ainda mais que ele seria feito no gigante Vitória, que naquela época já agonizava, funcionando como um pulgueiro, que só passava filmes de caratê ou eróticos de quinta categoria.
E não é que o festival foi um tremendo acontecimento na cidade? E o Vitória lotava de tarde, com alunos e professores assistindo as peças infantis e à noite com o público se espremendo, buscando a chance de assistir as peças para adultos.
Em 1990, com a criação da Fundação Casa da Cultura Macedo Miranda no ano anterior, e sob a batuta de José Leon Zylbersztajn e Rafael Binder, acontecia no teatro Senac e no Cine Odeon o II Festival de Teatro de Resende, que agora se chamava Fester e foi outro tremendo sucesso.
No ano seguinte, já com apoio integral da Prefeitura, o III Fester ganhou os espaços do CCRR e repetia o Senac. Nessa altura, o evento já ganhava dimensão nacional. Grupos profissionais de teatro do Acre e do Rio Grande do Sul disputaram uma vaga para concorrer aos prêmios oferecidos, e a comissão julgadora foi escolhida entre importantes diretores de teatro do eixo Rio-São Paulo.
E por mistérios que ninguém explica, o festival parou por cinco anos.
Somente em 1996, produzido pela Ong Crescente Fértil e patrocinado pela antiga Telerj, o Fester voltou ao Cine Vitória.
E após mais uma pausa, em 1998 a cidade assistiu a um evento incomparável. Os espetáculos infantis aconteceram no Colégio Estadual Olavo Bilac; e o teatro adulto no cinema acadêmico da Aman. Oficinas e espetáculos de rua aconteceram por toda Resende. A grande imprensa do Rio abriu suas páginas para o festival. E coisas que só a arte pode proporcionar, o festival teve seu encerramento com uma peça de Plínio Marcos, e foi assistida, lado a lado, pelo general-comandante da Aman e o ex-guerrilheiro e hoje deputado federal Fernando Gabeira.
O festival passou em branco por 8 anos, e juntamente com ele, esquecido também ficou o querido Cine Vitória. E foi em 2006, surgindo das cinzas, da poeira, das cadeiras quebradas, do telhado em ruína, que o Festival de Teatro de Resende e o Cine Vitória renasceram. O VI Fester atraiu novamente mais de 20 mil espectadores e aquela concorrida procura para assistir os espetáculos, infantis e adultos, como há 20 anos, voltou a acontecer... e a fila dava volta na quadra do Centro Histórico.
Mas o festival precisava também voltar a atrair os importantes grupos que já não contavam com ele em seus calendários... e na sétima edição, em 2007, o número de inscritos subiu de pouco mais de cinqüenta para 217, e as sessões se tornaram cada vez mais concorridas. Nesse ano de 2008, tínhamos os desafios de lutar pela continuidade do Festival e pela melhoria das instalações do Cine Vitória, que está com seu processo de compra quase finalizado.
Alguns obstáculos apareceram e o nosso processo para a Lei Rouanet ficou estagnado pelo caminho, e mesmo com o patrocínio em mãos... ficamos engessados e aflitos. E hoje estamos aqui, graças à decisão do atual governo de bancar com recursos próprios a realização do VIII Festival de Teatro de Resende, diminuindo um pouco o formato, mas também fazendo intervenções importantes no Cine Vitória.
E aquele sonho de 20 anos atrás, sonhado pelo Daniel Fortes, pelo Rui Camejo, Rafael Binder, José Leon e muitos outros, continua, mas hoje sonham com eles cada resendense que passou pelas sessões do Festival de Teatro desse ano...
Que esse sonho nunca acabe! "
Foto de Lúcia Pires
Eu e Ana Camarinha, com sua neta Nicole, ainda no palco do Vitória________________________________________________________
Comente esta reportagem. Clique em "comentários" abaixo. Mensagens sem um número de telefone ou e-mail, para que eu possa sanar possíveis dúvidas, não serão postadas.